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  • Jason Prado

A caminho da roça

Atualizado: 15 de set. de 2018


trabalhadores rurais brasileiros

Dez anos atrás estive no programa Entre Aspas, da GloboNews, na época apresentado por Maria Beltrão, para comentar o IDEB - Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. Estava ao lado da Secretária do Ensino Fundamental do MEC, Professora Maria do Pilar Lacerda, embora ela em Brasília e eu no Rio de Janeiro.

Tínhamos olhares distintos. Ela governo; eu dirigindo a Leia Brasil. Ela comemorava o avanço do ensino brasileiro; e eu me empenhava em enfatizar o quanto nos afastávamos do mundo informatizado, com resultados pífios de compreensão de leitura. Ela via com esperança onde eu enxergava apenas o caos.

Não era propriamente um debate. Eram apenas visões diferentes de um tema espinhoso.

A certa altura eu chamei a atenção para o fato de que os índices de que falávamos diziam respeito apenas àqueles que continuavam na escola, deixando fora das estatísticas todos aqueles que a haviam abandonado, ou que se preparavam para a evasão, por falta de compreensão de leitura. Foi a deixa.

Valendo-se de sua posição no governo, ela encerrou a discussão dizendo que eu estava enganado, e que o IDEB já levava em conta a evasão escolar.

De fato, ela tem razão. O IDEB considera o desempenho das escolas, inclusive na sua capacidade de reter os alunos, quando mostra seus resultados. Seria, por assim dizer, um retrato de nossas escolas.

Mas, de fato, também é verdade que usamos os indicadores do IDEB para falar do desempenho em leitura e matemática daqueles que permanecem dentro do sistema.

Os resultados medíocres que continuamos ostentando ainda hoje, dez anos passados, e que apontam para uma nação de analfabetos funcionais (7 em cada 10 alunos não atingem o mínimo de compreensão de leitura esperado para suas séries, segundo os resultados do IDEB de 2017 divulgados na semana passada), tratam apenas dos que estão dentro da escola.

Um outro índice macabro, divulgado hoje pela OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico, da ONU), precisa ser trazido à tona, ainda que com dez anos de atraso. Reproduzindo a chamada da matéria, para que não restem dúvidas: “Mais da metade dos brasileiros não tem diploma do ensino médio, aponta OCDE | Estudo divulgado nesta terça pela instituição mostra que 52% das pessoas com idade entre 25 e 64 anos não concluíram o ensino médio, desempenho que deixa o Brasil atrás de vizinhos como Argentina, Chile e Colômbia” (G1, de 11/08/2018). Esse enorme contingente de evadidos, os ausentes da escola - e do retrato feito pelo IDEB - seria uma fotografia de corpo e alma da nossa Educação.

A professora cumpria seu papel: defendia as ações e políticas do governo que integrava, de acordo com os instrumentos de que dispunha.

Mas é pena que o Brasil não tenha enfrentado essa questão de outra forma. Os brasileiros que hoje estão na condição apontada pela OCDE (sem o diploma do segundo grau), estavam na escola em 2008.

Eles apenas não sabiam que sua evasão já estava prevista e contabilizada.

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