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Três décadas em poucas palavras


A constituição da Leia Brasil como Organização Social ocorreu em outubro de 2001, quando se completava o décimo aniversário de funcionamento do Programa de Incentivo à Leitura, criado e operado – até então – como um Programa de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Petrobras.


Citado como “o modelo mais bem sucedido de bibliotecas volantes” e de incentivo à leitura do Brasil, na obra Um olhar sobre a Cultura Nacional do então Ministro da Cultura em parceria com o Presidente da Funarte, respectivamente Francisco Weffort e Márcio de Souza, o Leia Brasil circulava “pelas escolas de municípios sem bibliotecas”, atingindo “mais de 300 mil alunos e 16 mil professores” a cada mês.


Em 2001 nossas 22 bibliotecas circulavam 5 milhões de livros, todos os meses, em aproximadamente mil escolas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Sul e Paraná. Dez meses por ano, realizando algo próximo de 20 milhões de empréstimos anualmente.


Era a maturidade do Programa. O site interagia diariamente com mais de dez mil leitores no blog Leia & Comente, em que instigávamos nossos leitores com temas do cotidiano, propostos e comentados por grandes escritores e pensadores brasileiros.


Centenas de artistas, acadêmicos e escritores visitavam as escolas conveniadas com o nosso Programa, de norte a sul do país, levados por nossas bibliotecas. E o Leia Brasil formava grupos de Contadores de Histórias em cada cidade por onde passava: Macaé, Betim, Complexo da Maré; Belford Roxo, Santos, Campinas, Angra dos Reis, São Francisco do Conde, Esteio...


Museus, Universidades, Centros Culturais, o Programa Alfabetização Solidária e até mesmo o Ministério da Justiça, além de instituições globais como o Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe (CERLALC), a Unesco, e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), se associavam ao Leia Brasil para consolidar, reforçar e difundir suas ações. Foi assim que atuamos com o Alfabetização Solidária no sertão da Bahia e Alagoas, e integramos o Pacto Contra a Violência Intrafamiliar da ONU, por exemplo.


Naquele mesmo ano de 1998 comparecemos a convite da Unesco ao Salão do Livro de Paris, com a missão de falar sobre o incentivo à leitura e os modelos contidos em nossas ações programáticas em duas conferências e através da Rádio Unesco.


Criado em 1991 como um projeto de bibliotecas volantes voltado para o empréstimo de livros de literatura em escolas públicas, o Leia Brasil ocupou uma enorme lacuna na educação brasileira, oferecendo suporte pedagógico para a formação de alunos e professores leitores. De sua primeira experiência - em algumas escolas da cidade do Rio de Janeiro - expandiu-se até atingir a oito estados da federação, oferecendo um leque de atividades composto por cursos, oficinas, aulas de arte, teatro infantil, contadores de histórias, visitas de escritores, circulação de acervos, produção de conteúdos de reflexão, realização de eventos e, claro, livros à mão-cheia.


Em 1997 nós realizamos um encontro com mais de 3 mil professores no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo, no Seminário Leitura, Escola e Cidadania, em parceria com o Ministério da Cultura, a Fundação Biblioteca Nacional e o Governo do Estado de São Paulo.


Entre 1998 e 2000, organizamos e publicamos o livro A formação do Leitor: Pontos de Vista; fomos tema de destaque do Congresso Brasileiro de Leitura, o COLE, promovido pela Associação de Leitura do Brasil em parceria com a Unicamp; realizamos o Primeiro Encontro Internacional de Contadores de História em parceria com o SESC; o primeiro curso de Pós Graduação em Leitura, com a PUC-Rio; e o Simpósio Interdisciplinar de Leitura, também em parceria com aquela Universidade; o Festival Leia Brasil, no Pavilhão do Anhembi, São Paulo, em parceria com o MinC, a Fundação Biblioteca Nacional e o Governo do Estado de São Paulo; e inauguramos um programa de visitas a espaços culturais, o Ver & Ler, em parceria com mais de 50 instituições do Rio, São Paulo e Minas Gerais, entre elas os Museus do Índio; de Astronomia e Ciências Afins; Histórico Nacional; do Relógio; do Selo; da Imagem e do Som; da Ciência e da Vida (Fiocruz)...


Numa parceria com a Fundação Victor Civita, criamos gibitecas em mais de 1000 escolas distribuindo 100 toneladas de gibis nos estados onde atuávamos, e realizamos um concurso de práticas leitoras, premiando três educadores brasileiros com uma visita à sede da Unesco em Paris.


Por todo o conjunto da obra, recebemos o Prêmio Petrobras de Qualidade em 1998, e conquistamos, para a Petrobras, o Prêmio Marketing Best da década de 1990, outorgado pela Revista Propaganda e a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.


Em 2000 criamos um Comitê Gestor para o Programa, entregando sua presidência ao então Secretário do Livro e da Leitura do Ministério da Cultura, Octaviano Dei Fiore, e reunindo 15 membros de notório saber entre autoridades, acadêmicos, escritores, bibliotecários e produtores culturais: a Secretária do Ensino Fundamental do MEC, Professora Iara Prado; o Secretário de Cultura de São Paulo, Marcos Mendonça, o Presidente da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier, os escritores Affonso Romano de Sant’Anna, Ruth Rocha, Bartolomeu Campos de Queirós, Paulo Condini e Fanny Abramovitch. E os Professores Doutores Marisa Lajolo, Ezequiel Theodoro da Silva, Walda Antunes, Rui Oliveira e Eliana Yunes.


Esse foi o passo que acelerou a transformação do Programa (privado) em Organização Não Governamental. Cumprindo importante papel na formulação e condução de Políticas Públicas, seus objetivos já não se coadunavam com as funções empresariais.


A eleição presidencial de 2002, entretanto, como costuma acontecer na administração pública brasileira, trouxe novas prioridades à nossa patrocinadora – a Petrobras. E assim o trabalho com leitura que desenvolvíamos perdeu prioridade e foi fragmentado. Não era mais tratado como ação de suporte às Políticas de Estado, mas como contrapartida compensatória, em atendimento às demandas de relacionamento comunitário com cidades nas áreas fins da empresa.


Começamos aquela nova fase verticalizando a parceria com as escolas públicas: mais focados na formação de professores, diminuindo a quantidade de ações e ampliando a qualidade dos nossos serviços, inclusive em carga horária. Passamos a oferecer cursos específicos de produção de textos, de educação artística – música, dança, interpretação, gesto, imagem e cenografia – para a Educação Infantil e o Ensino Básico, e concentramos o trabalho em regiões produtoras de petróleo de quatro estados: Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Sergipe.


Essa mudança de eixo, associada à institucionalização como Organização do Terceiro Setor, nos trouxe liberdade para trabalhar com outros patrocinadores e parceiros. Foi assim que desenvolvemos o Programa Leitura Ampla em seis cidades da Região Metropolitana do Rio, e a Bienal da Leitura de São Gonçalo, ambos em parceria com a concessionária de energia Ampla, o SESC e a Rede Globo, sob amparo da Lei do ICMS do Estado do Rio de Janeiro; o Programa Compartilhando Leituras no SESC, percorrendo diversas cidades fluminenses; e o Projeto Reciclasa – Novos rumos para antigos materiais, com a IBM, que circulou por 12 estados uma exposição itinerante de ressignificação do lixo, implantando definitivamente uma visão de aproveitamento de objetos descartados na vida brasileira.


Também em parceria com o BNDES, a UNDIME – União Nacional de Dirigentes Municipais de Ensino, o PNLL – Plano Nacional do Livro e da Leitura, do MEC / MinC, e a IBM, realizamos – no auditório do Banco – o Ciclo de Conferências Leia Brasil, com o tema Os custos do Analfabetismo Funcional.


Durante a primeira década do século 21 a Leia Brasil conquistou importantes prêmios e moções de congratulações: o Prêmio ABERJ Nacional em 2000; o Prêmio Cultura Nota Dez, do Instituto Cultural Cidade Viva em parceria com Governo do Estado do Rio, em 2005; a Medalha do Mérito do Livro e da Leitura, da Fundação Biblioteca Nacional, em 2006; o Prêmio Viva Leitura, em 2006; o Prêmio ABERJ Paraná em 2007, e o Prêmio Urbanidades, do Instituto dos Arquitetos do Brasil, em 2008. 


Do ponto de vista programático, entre 2002 e 2010 nós realizamos centenas de cursos para professores de escolas públicas de mais de 200 cidades, emprestamos livros, realizamos seminários, exposições itinerantes, promovemos concursos artísticos (teatro, fotografia, redação, artes plásticas, música...), e circulamos mais de 50 espetáculos teatrais premiados, entre eles A descoberta das Américas (Júlio Adrião com texto de Dario Fo); A mulher desiludida (Guida Viana com texto de Simone de Beauvoir); O caderno rosa de Lory Lambe (Isabel Cavalcante com texto de Hilda Hilst); Os malefícios do tabaco (Pascoal da Conceição com texto de Anton Tchekhov)...


Passamos a integrar o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), dos Ministérios da Educação e da Cultura, e investimos na produção, edição e distribuição (gratuita) dos Cadernos de Leituras Compartilhadas: uma seleta de textos literários e acadêmicos para ampliação do repertório de leitura e apoio às práticas pedagógicas da leitura em sala de aula.


Publicamos 30 edições com os temas transversais da educação, que, nas palavras da Professora Doutora Lilian Lopes Martin da Silva, Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Alfabetização, Leitura e Escrita”, do Departamento de Educação da Unicamp: “mais do que colaborar com o professor em suas atividades para incentivar a leitura, mais do que formar o gosto e o prazer de ler, os Cadernos de Leituras Compartilhadas colocam cada leitor num projeto de educação cultural, estética e política”. 


Bibliotecas públicas estaduais, bibliotecas universitárias e, inclusive, a Biblioteca do Congresso Norte Americano, possuem essas coleções dos Cadernos de Leituras Compartilhadas, onde não faltam textos de grandes escritores e pensadores brasileiros.


Também produzimos quatro livros sobre educação e leitura: Vivências de Leitura; Diferentes heróis, diferentes caminhos; Leitura de Mundo através da Narrativa Dramática; e Novos Usos para Antigos Materiais


Todas as nossas publicações, em tiragens que variaram de 5 a 30 mil exemplares, foram distribuídas gratuitamente em escolas e bibliotecas públicas ou comunitárias de todo o Brasil.


Em 2011 conquistamos junto ao Ministério da Justiça o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Púbico (OSCIP), mas preferimos não modificar nossa relação de trabalho com o mercado: sempre fomos parceiros do poder público com financiamento da iniciativa privada. A atuação como OSCIP implicava na inversão desse modelo, e desistimos de atuar como tal.


Em 2014 a operacionalização dos projetos com livros se tornou impeditiva no Brasil, em função do alto custo de composição e manutenção dos acervos. Quase todas as editoras tinham sido transferidas para conglomerados multinacionais – a maioria deles pertencentes a grandes grupos de Ensino Privado – dolarizando assim os seus preços de capa. Isso inviabilizava a renovação de nosso acervo, imprescindível à manutenção da qualidade do trabalho.


Em razão disso – e também em resposta ao Governo Federal, que declarou como superadas as questões da leitura e da desigualdade nas escolas brasileiras – decidimos doar todo o nosso acervo para formação de bibliotecas comunitárias, e concentrar nosso trabalho no assessoramento de cidades e estados interessados no combate ao analfabetismo funcional, caso de Curitiba, no Paraná, Nova Friburgo e Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, Aracaju, no Sergipe, e Sorocaba, em São Paulo.


Integramos o Conselho de Desenvolvimento da Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio e transferimos para essa instituição toda a nossa expertise e energia produtiva, criando cursos, encontros e simpósios temáticos. O último deles, em 2018, dando continuidade ao ciclo de conferências iniciado com o BNDES, debatendo, no âmbito acadêmico, Os custos do Analfabetismo Funcional.


Através de nossa página – www.leiabrasil.org.br – oferecemos gratuitamente todo o suporte de desenvolvimento a escolas e educadores interessados nos mecanismos didáticos e pedagógicos de iniciação e formação de leitores.


Ainda em 2018 iniciamos estudos para implantar uma IPTV – rádio e televisão por protocolo de internet – voltada para a instrumentação dos novos profissionais e amantes da música para o mercado digital, onde ao músico já não basta o fazer artístico, demandando conhecimentos de produção audiovisual, streaming (distribuição pela web) e impulsionamento.


Neste ano também realizamos, em parceria com a FUNARJ, o Festival FUNARJ – Artes e Leitura, realizando 150 espetáculos de encantamento e arte em toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 40 dias.


Lançada no começo de 2020, embalada pelo isolamento social da pandemia, a Sonora, Rádio e TV produziu 86 programas de televisão com músicos e profissionais desse universo cultural, além de um Festival de Música Online em parceria com a Fundação de Artes de Niterói, totalizando mais de 100 mil visualizações em suas redes sociais – tudo sem qualquer custo, tanto para os músicos quanto para os usuários e espectadores.


No mês de dezembro de 2020 nos classificamos em 17º lugar na Categoria B da Região Metropolitana I no Edital de Retomada Cultural da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa, recebendo a nota 99,33 com o projeto 20 Compositores do Século 20 – O melhor da Era do Rádio para as gerações das Redes Sociais.


Entre outras atividades, durante trinta anos circulamos os mais diferentes acervos - artistas, escritores, peças de teatro, espetáculos circenses, peças de museus, lixo sob a forma de arte… Publicamos e distribuímos livros e periódicos; realizamos milhares de Oficinas e Cursos com os mais variados temas, duração e carga horária. Oferecemos cursos de Pós Graduação para professores com a Cátedra Unesco da PUC-Rio. Produzimos Debates e Mesas Redondas com o SESC. Festivais de Arte e Cultura. Feiras de livros. Simpósios e Congressos sobre Leitura e Educação. Desenvolvemos projetos educacionais transformadores para grandes empresas, como IBM, Ampla, Petrobras e Vale.


Criamos a Caravana da Cultura, que por 10 anos, entre 1992 e 2001, se apresentou em mais de 600 cidades brasileiras (comunidades de baixa renda, como Rocinha, Parada de Lucas, Higienópolis, mas também grandes espaços, como o Aterro do Flamengo, a Esplanada dos Ministérios e o Parque da Água Branca, por exemplo) com espetáculos de convivência de 12 horas de duração, envolvendo artes circenses, teatro, música e brincadeiras infantis. 


Nos últimos 3 anos realizamos o Festival de Jazz de Armação dos Búzios (2022), colocamos no ar uma IPTV no YouTube sobre Música e seus bastidores (Sonora, Rádio e TV, desde 2020), e firmamos um Acordo de Cooperação com a FUNARJ - Fundação Anita Mantuano de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, para gestão dos Cursos Básicos da Escola de Música Villa-Lobos, instituição com 1.200 alunos situada no centro da Cidade.


Pelo conjunto da obra recebemos mais de uma centena de Moções de Congratulações de Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas dos quatro cantos brasileiros.

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